BCG – Uma breve atualização de uma vacina pioneira que se adaptou ao tempo.
Introdução.
O Bacilo de Calmette Guerin (BCG) – vacina BCG- foi introduzido no Brasil no final dos anos 20
pelo Prof. Arlindo de Assis a partir de uma doação do Instituto Pasteur de Lille (França), onde foi
desenvolvido por Calmete e Guerin. A vacina tem sido regularmente utilizada na população
brasileira desde os anos 30, produzida Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) como preventiva
contra a Tuberculose.
O Brasil é um dos países em que o BCG faz parte do Programa Nacional de Imunização, no qual
é a primeira vacina aplicada em recém-nascidos (primeiro mês de vida). Como conseqüência, o
Brasil imunizou mais de 95% de sua população com sua cepa única, o BCG Moreau Rio de
Janeiro, caracterizada por muito poucos efeitos adversos, sendo o único BCG usado para bebês
nascidos de mães HIV + sem complicações relatadas. Os maiores estudos clínicos com BCG
foram realizados no Brasil e mostraram efeitos adversos muito baixos. Uma peculiaridade única
da história da vacinação com BCG no Brasil é que até o final da década de 1960 a imunização
era por via oral (mucosa) usando uma preparação líquida fresca produzida localmente, em vez de
intradérmica (parenteral) com uma preparação liofilizada.
Vacina polivalente.
Um aspecto importante da adaptação ao tempo do BCG, é a sua utilização como tratamento de
escolha para o tratamento do Cancer superficial de Bexiga.
Nos últimos anos, o BCG tem sido descrito como um ator fundamental para modular o sistema
imunológico de maneira positiva no combate a várias doenças. Artigos publicados descrevem
redução em longo prazo da hiperglicemia no diabetes tipo 1 avançado, efeitos terapêuticos em
pacientes com asma e principalmente a redução da morbimortalidade associada a infecções
virais como resultado da imunização com BCG. Na pandemia da COVID-19 a vacina BCG
apresentou sua nova face. Uma vacina que poderia ensinar o nosso sistema imunológico a
prevenir ou minorar a infeção por SARS-CoV-2. Pesquisas clinicas estão sendo realizadas na
Europa, Australia e EUA, locais onde o uso do BCG não esta em seus calendários de vacinação,
avaliando este provável efeito benéfico da vacinação em profissionais de saude. Entretanto no
Brasil, onde quase a totalidade da população foi vacinada com o BCG, por motivo de segurança,
optamos por aguardar os resultados dos estudos em outros países com baixa taxa de
imunização da população.
A FAP.
A área de Pesquisa tem como objetivos principais o aprimoramento da nossa estirpe (BCG
Moreau RJ) como vacina e também como imunomodulador.
Atualmente, estamos estudando com um novo BCG, desenvolvido para uso mucoso, que
hipoteticamente seria ideal para prevenção doenças infecciosas de origem viral que tem como
porta de entrada o trato respiratório superior. Este BCG pode servir como matriz para antígenos
virais como o do SARS-CoV-2.
Transferencia de Tecnologia.
Os resultados recentes mostraram a excelência da estirpe brasileira entre os BCGs, inclusive sua
seleção como vacina referencia da OMS. Recentemente iniciamos a transferencia de tecnologia,
em andamento, do Imuno BCG® para a Espanha. Portanto, a qualidade da nossa estirpe BCG
Moreau RJ, atestada por diversos estudos que realizamos no passado recente, nos possibilitou
exportar tecnologia de um produto criado em nossa Instituição, um fato pioneiro em nosso país.
Novos capítulos, desta longa historia, virão e esperamos que novas contribuições sejam
agregadas aos benefícios já alcançados pelo BCG.
Dr. Luiz Roberto Castello-Branco. Diretor Cientifico